A reunião seria a corroboração de uma anterior realizada pelo centro acadêmico de filosofia (CAF) que haviam estipulado as pautas e o inicio dos diálogos sobre os temas que seriam levados a reunião ampliada. Esta reunião é uma forma de tentar expandir a discussão e legitimar as decisões do centro acadêmico, submetendo-as à apreciação do maior número possível de estudantes. Logo no início da reunião você começa a detectar os personagens principais, que assumem papéis, ou às vezes são revestidos deles pelos outros participantes, principalmente os que se opõe.
Apesar das coisas serem - como quase sempre - muito mais complexas do que a redução de posturas entre direita e esquerda, revolucionário ou pelego, quando foi tratado o tema greve (cujo indicativo havia sido aprovado na reunião anterior do CAF e levado neste dia para votação) viu aquele tradicional discurso de separação entre favoráveis e contrários, colocados de um lado e de outro do Muro de Berlim. Infelizmente com o gasto de tempo e energia nesse empurra-empurra discursivo, as opiniões mais gerais sobre movimento estudantil, mobilização dos estudantes e analise das propostas que causaram a greve ou não ficaram em segundo plano. A impressão que se dá é que se perde muito tempo com agulhadas e insinuações dentro destas reuniões.
No final - muitas vezes o grupo mais participativo na gestão dos CAs retarda ao máximo as votações, para que o número de pessoas que estão na reunião (audiência rotativa) diminua e restem apenas seus "correligionários", que apóiam sua proposta e fariam mais peso na votação - foi decidido pela revogação do indicativo de greve, e pela não participação dos alunos em piquetes do movimento grevista atual. Os alunos da filosofia, por decisão coletiva, não entrarão em greve nem participarão auxiliando os funcionários.
Para mim, o grande problema está nas chamadas "decisões coletivas". Primeiramente porque elas não são tomadas por todos. Apesar de todos poderem participar, quem capacita estas reuniões são apenas um pequeno número de pessoas. As decisões do CAF, que representa os alunos, sinceramente, nunca me representaram. Não sei porque devo seguir suas determinações nem diretrizes, assim como as tomadas nas demais assembléias estudantis. A questão da representação não é apenas de foro intimo, de sentir-se representado ou não. Pois, se observarmos de maneira mais ampla, qual o significado de que a assembléia geral dos estudantes da USP tome decisões em votação com uma parcela irrisória de estudantes, compostos principalmente de granulos partidários. O afastamento da maioria diante deste mecanismo de decisão também não seria um sintoma de que este modelo de representação não serve para os estudantes? Não sei, não pensei profundamente numa proposição assim, mas ainda creio que o silêncio quase sempre também diz alguma coisa.