sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Humor paulistano

Recebi este email do meu amigo Bruno Caires:

Brasileiro é mesmo interessante, até nas horas mais difíceis, acaba dando um jeito e solta uma piadinha.

Comentários pelas ruas: 


- Se a São Silvestre fosse em janeiro, o Cesar Cielo ia humilhar! 

Não ia ter vez pros quenianos!!



- Depois do Airbag, os coletes salva vidas são os opcionais mais importantes nos carros de Sao Paulo.


- O melhor serviço de entrega em SP é do Submarino.


- Ninguém passa fome em São Paulo, Bolinho de chuva é o que não Falta.


- Vamos assistir a chuva lá em casa hoje??


- Quem acha que a água do mundo está acabando não mora em SP.


- Noé precisamos de você em Sampa!!


- Meu passeio ciclístico de hoje fiz de pedalinho


- Agora SP inteira tem casa com vista para o mar.


- Tem carioca morrendo de inveja, agora São Paulo tem dois mares: Mar ginal Tiete e Mar ginal Pinheiros


- Fagner para Kassab: "Quem dera ser um peixe para em teu límpido aquário mergulhar..


- A Dilma está lançando o BALSA-FAMILIA pra ajudar São Paulo


- Pelo menos a SABESP cumpriu o prometido: água e esgoto na casa de todo mundo.


- O Kassab tá trocando o bilhete Único pelo bilhete Úmido!!


- A Marta disse para o Kassab: Relaxa e bóia!!!


-Depois de tanta chuva, Kassab anunciou a construção da hidroelétrica do Anhangabaú.


- Em SP não se fala mais direita e esquerda... agora é bombordo e estibordo!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Lamúrias

Há dias que você acorda um lixo. Mesmo que tenha dormido 81309171 horas, está cansado, sente fome, mas não encontra nada na geladeira que te apeteça (isso claro, quando há algo dentro dela além de gelo e alguma frutinha se decompondo), sai rapidamente de casa e mesmo assim seu ônibus não passa e você chega atrasado ao trabalho. E logo num dia em que, misteriosamente, seu chefe chegou mais cedo...

Pois é, imagino que várias pessoas tenham dias assim algumas vezes no ano. Talvez piores. Talvez não, provavelmente. Acredito nisso ao olhar o ônibus a caminho do trabalho. Logo pela manhã os olhares cansados, olhos semi-cerrados encostados na janela prestes a conduzirem ao sono e a consequente perda do ponto onde deveriam descer. Os estudantes desgranhados que não tinham energia pra procurar um roupa menos extravagante do que uma blusa amarrotada, uma calça de pijama e um chinelo de dedo, carregando suas bolsas encardidas - quase sempre com algum zíper aberto - pra lá e pra cá, sacolejando ao sabor das curvas da cidade e do “acelera/freia” do trânsito paulistano, geralmente acertando a cara do desavisado mais próximo. Os trabalhadores marcados para seus subempregos, que acordar as cinco da manhã, se entopem de café e passam o dia com a expressividade no olhar de uma vaca pastando em campos secos.

Geralmente isto se cauteriza. Você acostuma e tudo resolve passar despercebido. Mas é só acordar com um pé na fossa que tudo salta aos olhos como os monstros de Goya, e você sente aquela serena complacência no pacto mórbido de que não é o único lixo naquela manhã. Suas lamúrias são mais uma entre milhares.

El sueño de la razon produce monstros... e o da vontade também!

Entretanto, sabemos também que - ao menos assim julgo - esta letargia da vontade costuma ser temporária. Principalmente quando conhecemos suas causas, ou ao menos seu gatilho. O ethos de tudo isso geralmente pode ser atrelado a um processo de recuperação e proteção. Quando estamos debilitados, física, mental e sentimentalmente, podemos entrar neste stand by como modo de capitalizar estes incômodos.

Tão certo quanto que hoje era um dia assim, é o fato de que bastou olhar para uma senhorita de longos cabelos loiros que cantarolava displicentemente ao meu lado, com um sorriso tão natural, solto, explicito, que ela não poderia camuflar-se na atmosfera pesada do ambiente nem com muito esforço. Talvez teve uma boa noticia e as coisas estejam caminhando bem para ela, ou percebeu que tem uma vida muito boa e deve animar-se com isto, ou ainda, talvez a noite de ontem tenha sido maravilhosa. Talvez usasse drogas (mas daquelas que te deixam feliz e não das que nos deixam insossos como boa parte dos medicamento para os males da melancolia, vide o Rivotril) Talvez tocasse sua musica favorita na rádio ao sair de casa, ou uma musica que a lembrava de algo muito, muito agradável. Talvez ela fosse assim mesmo, o que duvido. Acho mais provável apenas que ela tenha acordado com um pé no Yang, enquanto eu estou a alguns dias correndo pra e pra carregando o Yin nas costas.

Todos a olhavam. Era um elemento estranho.

Também a olhava. Admirado. E sentia inveja. Queria poder sorrir daquele jeito bobo também. Despreocupado, tão leve quanto possível.

Ela me olhou de volta. Assustei, pois nem reparei que a fitava tão insistentemente. Focou diretamente nos meus olhos enquanto cantarolava, e sorriu ainda mais.

Sabe de uma coisa? Acho que felicidade é contagiosa.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Leitores Paulistanos



O salutar hábito da leitura ganhou um espaço muito próprio em São Paulo. Estou falando do trânsito!

Não vamos culpar a falta de boas bibliotecas (mesma que seja uma acusação com fundamento) ou de outros espaços para esta nobre atividade. O real culpado é o ritmo da vida moderno-urbano-cosmopolita.

A maioria das pessoas já restringe o uso do seu status de "alfabetizado" - seja a la Tiririca ou não - a situações frugais e cotidianas, como conferir os recados do Facebook, observar um anúncio ou folhear uma revista na sala de espera de algum lugar que te faz esperar (que são muitos, mas poucos com sala de espera...). Enfim, o exercício da leitura é constante, mas raramente foge do automático.

Dizem que para você realmente se concentrar em um texto, ele deve ser o ponto central de sua atenção. Portanto, em uma cidade onde muitas pessoas vivem soterradas pelo trabalho, com a agenda apertada e nem em casa conseguem relaxar (tarefas domésticas, filhos irritantes, vizinhos malignos, as opções são muitas) o único jeito de desacelerar esta rotina é na marra!! E nada mais eficaz para realizar esta árdua tarefa nesta grande metrópole do que o trânsito nosso de cada dia. Seja rico ou pobre, motorista ou passageiro, ninguém escapa deste monstrengo (ainda mais em dias de chuva). E como as pessoas já sabem que não tem como escapar, e por mais pressa que tenham, podem apenas esperar, o tédio - e a culpa por estar perdendo tempo - são sanados com a leitura.

Aqui está! O futuro da educação brasileira.



Revistas, textos xerocados do seminário da semana seguinte, quadrinhos, jornalecos distribuídos no farol (que se multiplicaram seguindo a tendência do tráfego literário)  e os livros dos mais diversos tipos (espíritas e de auto-ajuda são os lideres de audiência) todos encontraram seu espaço na vida dos paulistanos. Me espanta o número de pessoas lendo algum em um dia de engarrafamento. No ônibus é o mais comum, mesmo entre os passageiros que estão de pé, mas já vi motoristas em seus carros aguardando o sinal abrir e mesmo motoboys se contorcendo para fazê-lo sem cair da moto. A literatura está em alta na metrópole senhores!! 

Agora basta o governo se tocar e explorar o potencial educacional desta situação! O brasileiro lê pouco, mas podemos reverter isto. Chega de bibliotecas! Trânsito para todos já! Vamos levá-los as regiões mais atrasadas do Brasil e promover a verdadeira revolução pela cultura.

Tenho certeza que as montadoras irão adorar a novidade!

P.S: Lembrando sempre que como nada é fácil na vida, desde já precisamos, para que a idéia dê certo, proibir os jogos de celular e videogames portáteis.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Web e privacidade

Depois de anos de desenvolvimento de ferramentas cada vez mais hábeis para "conectar" pessoas - seja a noticias, musicas, videos, ou simplesmente a outras pessoas - a internet tornou-se a grande via de transmissão de informação do nosso cotidiano.

Nesse trafego intenso estão inclusas todas os dados que nós inserimos de nossos computadores pessoais para a web. Centenas de milhares de declarações, opinião, imagens, fotos. Fragmentamos a nos mesmo e enviamos pedacinho por pedacinho para os mais diversos destinos através da rede.

Em trocas tão rápidas quanto eficientes, tão dinâmicas e interativas, não é difícil "errar a mão". Uma nova ferramenta é capaz de nos seduzir a abrir ainda mais espaço à internet no nosso dia (exemplo do Twitter, ou você já estava acostumado a dar opiniões publicas, postar fotos e videos em tempo real assim que lhe dá vontade?).

Segundo pesquisa, 33% dos jovens entre 13 e 17 anos divulga fotos pessoais, e 22%, até o número do celular. Dados bastante íntimos e que uma vez soltos na web, saem fora do controle dos usuários.

Acompanhar as inovações significa também estar receptivo a elas, e muitas vezes, ocupando-as com conteúdo pessoais que em outras ocasiões teríamos mais receio e pudor em dividir. Se por um lado os mecanismos aumentam, te outro nossa cautela parece diminuir.


Em todo caso, cada um encontra sua medida de exposição (seja em relação à opinião ou a imagem) e ela é cada vez mais muito mais ampla do que nas décadas anteriores.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Uma página que merece ser virada


Virar a página para mim não significa esquecer.

31 de março de 64.

Afastamento de João Goulart, presidente eleito, e posse do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco.

Começa a ditadura militar no Brasil. Época que experimentou crescimento econômico e recessão, censura e vanguardas culturais. Governo de extrema direita altamente repressivo. Entre os atos institucionais, a Lei Falcão e o Pacote Abril, com a atuação da ALN, COLINA e MR-8, o cabo de guerra arrastava toda a sociedade brasileira neste conflito. As idéias de Estado-Nação, liberdade e direitos humanos se degeneraram por completo.

Passados tantos anos, tudo parece muito distante. Minha geração não viveu este cenário, apenas seus reflexos. Temos informações dos dias comuns e dos dias turbulentos, de dores e alegrias, de vitimas e carrascos. A ditadura, ou "ditabranda" como alguns preferem chamar, com certeza chegou até nós com um grande escopo de dados, mas ainda assim, incompletos. Perguntar aos pais e avós é boa fonte de informação. Julgar a época com os valores de hoje, sempre pode gerar anacronismo, mas, a meu ver, ainda vale a pena arriscar.

Aaaah, os paradoxos...
Não é de hoje que ouvimos, a boca miúda, questionamentos sobre os atos realizados naquela época. Ação política e crime se misturavam quase indissociavelmente, e muitas questões ficaram por resolver, feridas abertas na justiça, na sociedade e na memória.

Alguns defendem a revisão dos fatos do período, um "exorcismo histórico" no espírito do Estado, para eliminar de vez velhos fantasmas. A idéia de formar "comissões da verdade" - pelo direito da sociedade de saber o que realmente aconteceu - ganhou força na última década, com algumas iniciativas vindas do próprio governo e de setores interessados. O impasse surge, entre outros motivos que compõe a psicogênese do sentimento de culpabilidade, porque abrir a caixa de Pandora da historia nacional dificilmente passaria impunemente pelo crivo da sociedade e pelas ações do Judiciário. Expor a época como realmente foi significa também (pelo menos de maneira mais orgânica) julgar as ações de quem lá esteve, e isto senhores, arrepia muita gente.

Nossos colegas do cone Sul estão anos-luz a nossa frente neste quesito: Argentina, Uruguai (cuja câmara dos deputados acaba de revogar a Lei de Caducidade para quem violou os direitos humanos: veja aqui) e o Chile (ainda mais à frente, com o efetivo julgamento de muitos militares, inclusive do comandante máximo General Augusto Pinochet). Acho que está no momento do Brasil dar este passo em direção a verdade também. Doa a quem doer.

Acusações de revanchismo, "cultura de ódio", manipulação política das informações trepidam quando se esbarra no assunto. Figuras importantes seriam atingidas em cheio pelos atos cometidos na ditadura, entre eles militares reformados, empresários de sucesso e políticos em plena atividade. Militares acusam governo, governo acusa militares, todos tentam se defender, mas ninguém bota o dedo na ferida por medo de se queimar. E se o governo acusa os militares, torturadores e caçadores de comunistas, e estes lhe apontam todos os guerrilheiros, terroristas, sequestradores e ladrões? Na época, todos diziam ter razão. Muitos militares apenas cumpriam ordens, e muitos guerrilheiros lutavam como podiam contra um regime que os massacrava. Agora, talvez (ou não) com alguma isenção, não seria oportuno dar a chance ao povo e a justiça de dizer quem deve ou não ser condenado? Quem cometeu ou não atrocidades? Quem foi vitima ou algoz dentro de um Governo degenerado?

Acredito que sim, por isso sou totalmente a favor de olharmos novamente ao passado e julgarmos seus atores.

Inocentes e culpados, que apareçam no tribunal, mas não se pode tirar de um povo o direito limpar seu passado de todas as pontas soltas, historias inacabadas e questões mal resolvidas. Julguemos os militares, para decidir se são menos culpados por terem sido pressionados por seus superiores, julguemos os guerrilheiros, para decidir se seus métodos de luta muitas vezes tão brutais quanto de seus inimigos eram ou não justificáveis.

Sonho com esse dia, embora ache que não irá chegar...

E você? O que pensa sobre o assunto?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Quando ficar velinho, deseja receber cuidados?

Em pesquisa divulgada pela BBC, realizada da multinacional de seguro de saúde Bupa, conduzida pela universidade London School of Economics:

"três em cada quatro brasileiros entrevistados (76%) disseram acreditar que sua família vai sustentá-los na velhice. Em países como França, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Alemanha, menos de 70% das pessoas acreditam que serão sustentadas pelos parentes ao chegarem a velhice.Os brasileiros também estão entre os que mais acreditam que a responsabilidade de ser sustentado na velhice é dos seus familiares – dois em cada três entrevistados (66%) manifestaram esta visão na pesquisa da Bupa. Na Grã-Bretanha, menos de 30% atribuem à família a responsabilidade de sustentá-los na velhice."

Fonte: BBC Brasil

Vejo muitos casos onde tios, avós, geralmente velhinhos com alguma doença crônica ou que simplesmente não possuem recursos para se manter (muitos nunca tiveram trabalhos formais e mal contribuiram com a previdência para ganhar a merreca que chamam de aposentadoria...) tem que ser assistidos pelas familias. Muitas vezes se torna um jogo de "batata-quente" quando os mais jovens não entram em um acordo sobre quem terá mais responsabilidades, principalmente no caso do idoso ter que residir na casa dos familiares, modificando todo o ambiente.

Acredito que ninguém queria realmente necessitar do auxilio dos outros para sobreviver, mas me espanta o desencatando, a perspectiva de que muitos dificilmente fugirão desta condição. A principal justificativa é o total despreparo para o futuro, a ausência de planejamento financeiro para esta fase da vida. Mas simplismente lançar mão dos familiares como futuras muletas não é brincar com a sorte? Não é uma posição leviana?

A pesquisa não foi feita com idosos, mas sim com jovens e adultos... esperar receber cuidados não me parece um bom sinal. É diferente de acreditar que sua familia lhe auxiliaria numa situação de hiposuficiência; é tomar a assistência de seus familiares como parte de seu planejamento de vida.

O que pensam sobre o assunto? Auxiliariam um parente idoso que se encontra-se em dificuldades em qualquer ocasião? Esperam receber este tipo de ajuda quando chegarem nesta fase?

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Coisas que não fazem sentido

Fico pensando sobre certos eventos que encontro na vida... e alguns, realmente, por mais que eu torça, analise, enfoque, quase implore... não fazem sentido algum.

Aqui onde trabalho - prédio público - estão construindo um banheiro adaptado para pessoas com deficiência motora no segundo andar! Está lindão =P

O que me intriga é que não há elevador, rampa, guindaste, catapulta... NADA que propicie o acesso de um cadeirante por exemplo, ao sanitário... nem projeto para que exista algum (eu perguntei)

Ai fico me perguntando, encafifado com a questão: WTF o.O?!?!

Se alguem descobrir o sentido disso, me avisem por favor...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Dias, noite... e madrugadas com o sistema publico de saúde.

Mais uma vez, como acontece todo ano, uma virose/infecção intestinal (depende do nome que o doutor quer dar) me ataca. É tradição. Como Natal e Dia do Índio.

De madrugada, acorod com dores e já sabendo o roteiro: pega as coisas e vai pro hospital guri, porque depois você vai estar fraco demais pra ir e será pior. Experiência útil. Já sei cada etapa até capotar de vez, e quanto tempo tenho. Sei que fatalmente vou passar uma hora no soro e sei que levarei uns cinco dias e algus reais em remédios e comidinhas especiais para me sentir gente de novo. Então lá vamos. Pego o ônibus em frente de casa e vou para o Hospital Universitário (H.U.) da USP. Poderia ir no Hospital das Clínicas, muito mais perto de casa, mas da ultima vez que fui lá com meu amigo Pedro eles me fecharam as portas... falaram que o Pronto Socorro só atendia "atropelamento, facada e tiro" (palavras do segurança).

20 minutos de Ônibus... sacolejando... mas chego lá ainda inteiro. O procedimento é simples: senta, mostra sua carteirinha de atendimento (ainda bem que sou aluno/cliente antigo... eles já tem minha ficha), espera chamar a sua senha e boa sorte. A espera é o problema... sempre é. Quem tem dores nunca quer esperar. Mas, vamos, este é o mundo real. Então aguardo.

O plantonista me atende (são seis da manhã, ele deve estar exausto), examina, pergunta, me passa os remédios (eu quase capoto na frente dele) e me manda pra sala de medicação. Sento e fico. Só saio de lá pra ir ao banheiro. Enquanto estou lá, a funcionária alegremente tagarela com outra enquanto abre e fecha gavetas a esmo (sei que é a esmo... no fundo do meu ser eu sei...), enrola, mata o tempo, e eu lá, sentadinho, branco como um fantasma, esperando meu remédio, que já está separadinho em cima do balcão. Receio de reclamar com uma mulher que vai te dar uma agulhada. Finalmente tomo o remédio. Nada ainda, esperar fazer efeito... agora vem o soro... e... e... ué... cadê o soro? Médico num passou. Qual é a idéia deles? "Esse garoto com cara de semi-morto? Ahh, dá um remedinho que melhora!"... foi isso que pensei. Bom, vamos dar uma chance né... vái que eles estão certos... vai que eu que estou faendo manhã e... bem, depois não lembro direito, porque desmaiei no meio do corredor e num vi mais nada...

Acordei na cadeira de rodas, com todo mundo me olhando. Perguntavam meu nome. O que eu sentia. Nossa. Atenção! É bom pra variar. Em menos de 5 minutos (já corria mais de hora desde que cheguei lá) dois médicos me viram, me passaram nova medicação (com soro!!) me colocaram na de espera e me deram um dos mtos cobertores que ficavam lá no cantinho mas ninguém teve a dignidade de oferecer. Após, desmaiar, cair no chão, dar show como uma criança birrenta em público (mesmo involuntáriamente), consegui tudo que eu queria!

Problmas do sistema de saúde público? Técnicos, administrativos, lojisticos mas, acima de tudo, humanos. Foi só ser bem atendido, alguem me olhar no olhos e perdem 5 minutos comigo, que já me sentia melhor.

sábado, 31 de julho de 2010

Mussum, 16 anos sem...

Hilario, autêntico, do humor mais popular já feito nest pais!!

Sempre vale a pena lembrar:









segunda-feira, 26 de julho de 2010

Nas catacumbas da arte dramatica paulista

NESTE SÁBADO, tive a oportunidade, acompanhado de minha amiga/semiesposa/fiel escudeira Carol, de, depois de muito tempo sem assistir (culpa do Bruninho ¬¬' ainda precisamos ver "A Alma boa de Setsuan"... e comer aquela pizza na cantina italiana novamente hehehe) a uma peça de teatro, ir ao Espaço dos Satyros, na Praça Roosevelt. Tinhamos que estar lá até a Meia-noite... felizmente ainda havia ônibus. O programa era um antigo projeto nosso: a 3 anos atrás tentamos o mesmo passeio... sem sucesso (fila, horário e nosso decadente planejamento não deixaram... faz parte =/). Porém, desta vez, apesar de alguns contratempos, conseguimos chegar ao local a tempo, intactos e, importante, animados! A peça? "A Filosofia na Alcova", baseada na obra homônima do Marques de Sadê (em francês, La philosophie dans le boudoir, de 1795) adaptada por Rodolfo García Vázquez. Li o livro no segundo ano da faculdade. Já sabia o que esperar... e como esperava!!

O teatro

No coração de São Paulo, que fervilha durante as noites mesmo com a famosa violência, é a síntese de umas das facetas da cidade: a convivência de figuras distintas e contrastantes num mesmo espaço ao mesmo tempo. Velhos, jovens, intelectuais, estudantes, músicos, atores, moradores de rua, travestis, prostitutas, empresários, tudo junto ao mesmo tempo, respirando do mesmo ar, interagindo, misturando-se numa estranha harmonia. O espaço é pequeno, acanhado, de faixada simples e ornamentada com fotos da cidade e cartazes de atrações culturais. Há um bar simples, mas aconchegante.  No caso, fomos ver a peça num segundo espaço, mais adiante na rua, separado por alguns metrô, onde não havia bar. Ao chegar lá, não é muito difícil se orientar. A espera no hall de entrada pode ser oportunidade para boas conversas e alguma amizade inusitada na fila de espera. 




Logo somos conduzidos ao local onde será encenada a peça. Descemos uma escada e adentramos um "porão" (neste instante penso nas catacumbas, escondidas, misteriosas, a salvo do "Psiu"...) a meia luz, de aparência antiga (como é característico de praticamente tudo no centro de São Paulo), realçada pelo insinuante improviso nas instalações. Muito charmoso!! No palco, a representação de um tocador, com divã, piano, espelho e uma moldura gigantesca. Entram todos. Fecham-se as portas, apagam-se as luzes. Não há para onde correr amigo! Se te arrependes agora, já é tarde. O jeito é respirar aquele ar parado de clausura, e entrar de cabeça na experiência!

A peça

Sobre ela se fala pouco, porque isto meus queridos, SÓ ASSISTINDO!!! Ela causa um leve choque mesmo quando se espera situações impactantes, mas nada que você não possa contornar, com um pouquinho de boa vontade e alguma curiosidade. A nudez, o sexo, a violência e a escatologia são parte do processo, e não destoam no ambiente libertino, que tematiza a obra e é vivamente interpretado na peça. Caso isto incomode, sugiro que façam um esforço, pois jamais sugeriria a um amigo que não fosse àquele espetáculo. É exuberante, vivo e provocante como a obra que o inspira. Trás cenas de grande beleza e (algo inesperado) prima pelo humor impecávelmente colocado que amortiza muitas das agressivas premissas da obra. Os atores são intensos, vorazes e carismáticos. Alguns belos corpos, a iluminação que dita o ritmo da ação e a trilha sonoro bem escolhida são algumas das atrações. Me agradou também a passagem referente ao texto "Franceses, mais um esforço se quereis ser republicanos" (minha passagem favorita da obra, que pode ser lida aqui) que foi competentemente arranjada.



Ao final, fica um misto de contemplação e alivio. Todos são meio catatônicos, o que me parece bastante natural. Também saem apressados para seus destinos, pois o teatro esta fechando e já estamos no melhor da madrugada, sempre repleta de possibilidades. Nos dirigimos para a Augusta, logo ao lado, território conhecido, onde circulamos a vontade.

E fico pensando que a alcova vem antes do quarto, onde as pessoas se despem de tudo aquilo que utilizam em público, nas ruas ou salões... e algumas coisas ficam mais claras...