quarta-feira, 28 de abril de 2010

Menino da Vila

Talvez seja o nome mais citado na imprensa brasileira nos últimos dias. Mais que Ronaldo e Adriano, mais que Dilma e Serra . Nem o Ciro com sua AK47 verbal pode com ele!! Neymar, como diria o trovador, é o "Cara" do momento!!


O "cara" e o panda.

Garoto ainda, no auge daquela fanfarronice típica da passagem adulto-adolescente (que todos nós muito bem desfrutamos... e gostamos de prolongar... aaah como é bom!!), sente a algum tempo o furor de se tronar um astro. Parece não ligar muito de fato. Age tão naturalmente diante do publico e da imprensa, que chega a passar a impressão de mascarado. O que é um assinte, já que, na sua malemolência de moleque espertalhão, não a espaço pra encenações (fora os saltos, duplos twist-carpados, que executa em campo a cada toque do defensor adversário, com força justificável para tal ou não).

A verdade é que para alguns cricri-ticos, ele muito incomoda. O rapaz é pura autenticidade, coisa que não se engole no seco muitas vezes. Boleiro de várzea, garoto de matar aula no campinho pra jogar descalço. Figurinha folclórica, quase um saci praiano (mas com um par de pernas, senão não pedalava). Tem um grande futuro pela frente. Um futuro que pode ser glorioso se ele não for apenas o que é hoje, já que, como tantos outros garotos - trabalho em uma escola e conheço dezenas de figurinhas parecidas... boa gente - canta de galo na sua zona de conforto mas não se vira muito bem longe dela.

Me explico: malandro que é malandro manda é desmanda no morro (alegoria sambística de muito estilo) mas quando vai ao asfalto, ai sim, testam-lhe o jogo de cintura. O esperto se vira bem nos seus domínios. Conhece, conversa e escuta. Sabe se mover pelos seus recantos, que lhe são caros desde a infância. Agora, e quando por um acontecimento - fortuito ou não - essa figurinha tem que sair de seu ambiente, trilhar novas sendas, tatear pelo escuro num cômodo cheio de móveis pontiagudos? Aqui está o desafio, quando se separam os homens (mesmo que moleques) dos moleques (mesmo que homens).

Vendo a entrevista concedida ao Estadão (clique aqui) ficam claras algumas particularidades. Confiança irrestrita no pai e no assessor, que gerenciam sua carreira. Desejo de ser grande. Vontade de cumprir o que desde as peladas no campinho e ingresso na base do clube do litoral passou a ser visto como seu "destino". Não me espanta o desinformação, muito natural. O desejo de consumo também, modo ativo de realização instantânea. Isso pra não comentar as tão polemicas declarações sobre ser negro ou não e a vaidade pouco acima da média que alguns adoram condenar. O que realmente me impressiona é o sentimento de que ninguém nunca lhe disso que ele pode ser algo além do "Neymar, menino da vila".

Provavelmente ele está muito satisfeito com a vida (e não é pra menos) e não almeja nada diferente por hora. Foco, concentração e "vamo que vamo"!! Entretanto, não são poucos os casos (e a vida é sabia conselheira) que expressam a necessidade de ter joelhos fortes - trocadilho futebolistico? - para suportar a pressão dos ombros pesados de responsabilidade. E elas vem. Sempre. Cedo ou tarde. Alguns cedem. Vários casos temos para observar, isso falando só dos contemporâneos: Robinho, Ronaldinho Gaúcho, Adriano, Ronaldo, Romário (falido), Wagner Love, Carlos Alberto, Roger "Celebridade" Flores... Todos jogadores de sucesso, mas com carreiras de altos, baixos... e fundos... e masmorras. Instabilidade, escândalos, palhacinhos no circo dos tablóides... e voluntariamente!!! Não é questão de dizer que ninguém é santo, mas sim de que, em muitos momentos, grandes nomes fazem sim coisas estúpidas. Se fosse só no futebol...

O fato é que educação vem de berço sim, mas não somente. A vida ensina, mas nem sempre educa e não basta apenas ser bom no que se faz para ter sucesso. O Mundo não é mãe, é madrasta (no sentido waltdisneytiano...) e qualquer figura um pouco mais proeminente é forte candidata ao cargo de vidraça. A questão é como se reage às pedradas. E temo sinceramente que o jovem Neymar não seja capaz de aprender com os erros de seu colega Robinho, que podia ser muito mais do que é hoje, mesmo como jogador. Se não quis mais, é uma escolha pessoal e dá pra ser perfeitamente feliz também, entretanto, ele quer ser o melhor do mundo ou não. Não adianta ser ambicioso sem preparo.

O rapaz é novo, verde, tem muuuito a aprender, mais fora de campo do que dentro dele, e se deseja realmente ser o melhor, marcar época, ídolo de uma geração, não basta ser Neymar. Não bastar ser menino da vila, tem que ser homem. E isto passa por mudanças que espero que ocorram em breve. Pois nem tudo se emenda com esperteza quando o que se exige, sem mais, é inteligência.

P.S: Faço coro com o internauta Ronaldo P. Nunes, que no dia 27/04, no blog do Paulinho (http://www.midiasemmedia.com.br/paulinho/) decidiu que seria muito mais adequado deixar de lado os pedidos para o Neymar ir a Copa (pessoalmente, chamaria dessa turma só o PHG) e que deveriamos fazem campanha para que ele voltasse a escola, amandonada por não conseguir conciliar com os estudos (matéria sobre isso, também fornecida por Roanldo P. Nunes, no citado blog, aqui). Ele faz curso de inglês e bem que poderia continuar com aulas particulares, mesmo não tendo uma vida escolar normal. Existem provas de readaptação para isso. É uma pena que essa iniciativa parte de quem deveria zelar pelo seu futuro. Então endosso o coro: NEYMAR RUMO A ESCOLA 2010!!! Supletivo segundo semestre... inscrições abertas ^^

quinta-feira, 22 de abril de 2010

São Paulo, primeiro em seu grupo na Libertadores

Na noite de ontem, num Morumbi lotado com mais de 50 mil tricolores reunidos (realmente, nossa torcida se empolga só para assistir Libertadores ou quando o time está na iminência de obter um título) o São Paulo bateu o Once Caldas por 1 a 0, gol do discreto Fernandinho que se não começar a render vai ser lembrado como o "cara de um jogo só" (aquele em que ele fez quatro gols logo na estréia, nem lembro mais contra qual dos times-zumbi do paulistinha).

Nisto, duas coisas para comemorar:
- Classificação em primeiro lugar no grupo, o que rende uma boa vantagem na fase eliminatória. Se bem corremos o risco de pegar o Flamengo e como todos sabem o time do Morumba tem um azar danado quando se juntam os fatores "mata-mata" e "time brasileiro".
- A vitória (merecida, num jogo equilibrado e contra um bom time) sobre o Once Caldas. SOBRE O ONCE CALDAS!!! Finalmente!!! Achei que este dia nunca ia chegar... ufa... sabe como é gato escaldado né..

No entanto, acho bom baixarmos a nossa bolinha (não somos famosos pela humildade) porque já no dia seguinte vi muito são paulino saido do armário - sem trocadilho - e botando banca de que o nosso time se classificou em primeiro... que nós temos camisa... que agoooora vai!!! Bem, devagar com o andor. Camisa todo mundo tem -seja algodão, lycra ou poliester - e isso deveria se referir a um time que mesmo quando não vive seu melhor momento técnico, é aguerrido, brigador, e competitivo. Esse é o chamado "espírito da Libertadores". Entidade que, confesso, não sei se irá baixar no terreiro tricolor. O time não mostrou essa pegada até agora, não estamos mais em inicio de trabalho e não sei se pode mudar muito coisa daqui para frente... acho que o nosso time para este ano é isso mesmo e acabou. Um time com potencial, mas indolente em campo, vaidoso fora dele e, para todos os efeitos, bem mais letárgico que nas temporadas anteriores.


O Jason de 2009 virou o que este ano? Moranguinho?

Dizem que os números não mentem. Também acho. Eles não mentem, nós que as vezes entendemos bobagem. A classificação em primeiro, num grupo que não chegava a ser um grande desafio, era esperada e qualquer fato diferente disso faria cabeças rolarem no CT da Barra Funda. Mas certamente não foi merecida. Foi conquistada em campo sim, porém não pelo pelo desempenho de nossos atletas mas sim pelo fortuito do mundo da bola, pelo acaso de tiros na trave do RC que teimavam em não entrar, pelos adversários displicentes com times reservas de velinhos obesos e pelos costumeiros times "o que você esta fazendo aqui?" que sempre inflam a competição.

Achar que está tudo bem pela classificação em primeiro lugar é uma armadilha que em nossa soberba, não podemos ignorar. Nosso time não é "top", nem sequer um time mediano competitivo, pois sempre somos fomos derrotados em momentos crucias. Espero que os fracassos nesta temporada até agora tenham deixado lições profundas na diretoria e no elenco e que esse resultado falseta não apaga as benéficas marcas que a derrota, quando bem absorvida, pode deixar.

Para alguns o sinal amarelo deixou de piscar no Morumbi, mas ele continua bem acesso. Amarelo vivo, piscante, psicodélico.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Enquanto isso, nos batidores...

Hoje resolvi falar de futebol. Ou melhor, não falar de futebol. Porque é isto que vem ocorrendo na imprensa esportiva nos últimos tempos. Lembra aquele espaço que era tomado por discussões de quem era o melhor jogador, se aquele lance foi pênalti ou não, se aquele jogador recém-contratado encaixaria bem no esquema daquele time? Discussões técnicas e táticas, levadas a exaustão em programas na hora do almoço e nos fim das noites de domingo. Chegaram por muitas vezes ao limite do enfadonho. Era ridículo trocar os canais e ver 3 mesas redondas reprisando o mesmo lance varias e varias vezes, para não chegar a conclusão alguma. Bem faz parte. Mas o que eu quero dizer é que tenho reparado ultimamente que este tipo de cobertura tem perdido muito espaço.

Nos últimos anos, o torcedor anda bem melhor informado sobre o dia dos clubes, as transações envolvendo clubes e empresários, conhece melhor os acertos para patrocínios, cotas de transmissão, etc. Inundados de jornais, revistas,canais de Radio e TV, blogs, o torcedor se tornou bem mais exigente quanto ao que deve ser transmitido a ele. Os interesses mudaram. A recepção também. Um exemplo disto para mim ocorreu nos últimos dias.

Mesmo com as grandes equipes do país disputando as final dos regionais (já muito debilitados) e vagas na Libertadores, os grandes tópicos se concentraram nos bastidores, na política que rege o mundo da bola. Mesmo com a disputa entre Flamengo e Botafogo pelo titulo no Rio, a luta de Cruzeiro e Inter para garantir uma vaga no torneio internacional e da semifinal entre Santos e São Paulo, o que dominou o noticiário esportivo foi a eleição do Clube dos 13 e a disputa entre Fabio Koff e Kleber Leite (apoiado pela CBF), o destino da desejada (para mim deviam derreter a maldita, mas enfim...) Taça das Bolinhas, a situação do Morumbi para sua utilização na Copa de 2014. Olhando bem, são todas situações evitáveis, se houvesse um mínimo de lisura em tudo que se move por trás das cortinas do esporte. Até o COB só surge pra se envolver em alguma polêmica, mas logo dá de ombros.


DERRETAM-NA!!!

Isto mostra um cenário interessante, onde as facilidades de se vincular informação auxiliar a imprensa esportiva a ser mais incisiva sobre assuntos totalmente políticos, tarefa que era execrada por muitos jornalistas, não querendo se enfiar neste meio. Agora, uma coisa é trazer o fato, outra muito diferente e repercutir picuinhas sem sentido. Se eu ouvir falar da Taça de bolinhas mais uma vez,juro que já começo a sentir falta dos intermináveis debates sobre se tal lance foi pênalti ou não.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Internet brasileira do jeito que quisermos?

No último dia 26 de março, foi apresentado ao Ministério da Justiça o resultado de uma consulta pública realizada pelo governo federal, com a assistência da FGV-RJ, sobre a internet no Brasil. Tudo feito on-line!! As opiniões eram expressas por e-mails, comentários no blog feito em Wordpress, citações em outros blogs... até tweets!!

Com a participação de cerca 800 pessoas (pouco, apesar da facilidade de participação) as pessoas tiveram a oportunidade de enviar opiniões, discutir os temas e mais importante que isso: de tornarem-se parte ativa na construção dos alicerces de uma futura legislação nacional sobre o tema. Com a ampliação da participação popular, através destes mecanismos de integração em tempo real, esta consulta é legitimada ainda mais por tratar-se da audição in loco do tema, com pessoas que vivem, respiram e são diretamente afetadas pelas decisões tomadas sobre esta grande ferramenta.

Mesa redonda sobre o Marco Civil da Internet na Campus Party 2010.

Estas opiniões foram recolhidas e organizadas para formular um anteprojeto de lei, que criaria um marco regulatório para a internet brasileira. Claro que se trata apensa de uma primeira fase. As discussões precisam ser ampliadas e desenvolvidas de maneira ainda mais precisa, principalmente sobre os temas em que a população demonstrou mais interesse, como liberdade de expressão, privacidade e anonimato, e responsabilização por conteúdos expressos e acessados na rede.

Claro que se trata apenas de um briefing sobre o assunto, a consulta ainda passará por uma segunda etapa. Entretanto, a formação do Marco Civil da Internet parece um passo importante no sentindo de legislar sobre um tema que ainda engatinha legalmente e onde os projetos são especialmente controversos (ver a chamada Lei Azevedo, a PL 84/1999 sobre crimes na internet).

Certamente a internet é um espaço de liberdade de opinião e atuação, mas acredito na necessidade de construir mecanismos para lidar com isso de maneira saudável. Espero que no fim corra tudo bem, e que não haja abuso no momento de legislar sobre o tema, mantendo suas principais características.

LINKS:

Site do Marco Civil da Internet

Leiam também, se interessar, o site Internet Legal, que fala sobre direito e tecnologias de informação.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

2D x 3D? Besteira!!

É interessante analisar que o desenvolvimento de técnicas de animação mais realistas deve seu surgimento a uma outra industria, que antes paralela, agora movem-se quase em uníssono para desembocarem num mercado ainda maior. Explico: O surgimento da animação 3D, popularizada hoje por grandes estúdios com alta entrada na mídia - como a Pixar e a Dreamworks  - e por pequenos produtores independentes que despejam centenas de curtas na internet diariamente, só foi possível pelo avanço nas técnicas de aplicação de imagens explorada, numa das guerras mais ferozes que o mercado do entretenimento vivenciou no século passado, pela industria dos videogames. Por ser uma mídia em expansão acelerada - como todo mercado ligado a produção de artigos tecnológicos e gadgets em geral - a necessidade do avanço nos meios de interação imagem-observador (no caso, cliente) levou ao desenvolvimento de técnicas de animação extremamente avançadas. Para privilegiar a chamada jogabilidade, o ambiente em que a trama se passa ganhou elementos, ambientes dinâmicos, texturas, movimentos mais realistas e cores mais harmoniosas. A inserção do jogador, em um cenário cada vez mais próximo do seu, possibilitou a criação de tramas cada vez mais complexas, que demandavam outras habilidades alem da sucessão mecânica de movimentos e rapidez de raciocínio. Em outras palavras, designers e programadores desenvolveram novas possibilidades para a imaginação dos criadores e roteiristas.

Esse quadro foi de fundamental importância para o surgimento da animação 3D nos estúdios cinematográficos. Foram bem hábeis ao detectar que a animação (a anos “presa”  ao traço com lápis e tinta) precisava de um novo fôlego. Com a batalha para possibilitar este tipo de criação já travada por outros legionários, esta tecnologia foi aplicada de forma maciça na produção de desenhos animados, tanto no formato clássico, substituindo o 2D, como na industria do cinema. E com o êxito deste tipo de animação, que por muitos tempo deixou o estilo “clássico Disney” meio de lado, abriram-se as portas também das produtoras de games para flertaram com o cinematográfico; este enfoque se evidencia no quanto esta mídia passou a ser opulenta em suas criações, valorizando aspectos cênicos como figuro e cenários, passando pela trilha sonora mais elaborada e desencadeando uma elaboração mais  complexa - e muitas vezes dramática - dos enredos encarados pelos jogadores.

Sempre enxerguei este quadro como uma certa unidade. São extremamente fortes as relações entre as criações em quadrinhos, desenhos animados, games e cinema. Os 3 primeiros talvez desenvolveram-se mais  próximos, num continuum dinâmico onde o aperfeiçoamento das técnicas gera conseqüências inclusive narrativas. Mas não se relacionam de maneira a um sobrepujar o anterior. Pelo contrário, se reforçam a todo instante, ocupam espaços distintos, ocupam o mesmo e as vezes se misturam de maneira extremamente natural. Não é possível falar nos mesmos termos que anunciamos “o fim do vinil diante do MP3” sobre a relação entre 2D e 3D. Eles convivem, necessitam um do outro e não revelam o antagonismo que freqüentemente se observa na relação (cruamente tratada) como conflituosa entre analógico e digital. Se algum dia todo entretenimento gráfico será 3D (quem sabe a música também? Coisas de sinesteta...) certamente também haverá aquele “3D chulo” com animações texturizadas mas com resolução baixa, e traços quase infantis (que tem o sucesso comprovado por fenômenos com Cyanide and Happiness). Também não será aceito por todos (quantos fãs de games não conhecemos que fazer um “back to basics” e se recusam a jogar The King of Fighters em 3D?) nem devem. Melhor que tenham seu lugar. Talvez todos convergindo para o cinema, irmão bastardo mais rentável. Talvez. Um dia. Parece tudo uma questão de status.