terça-feira, 8 de junho de 2010

Enquanto isso, na USP...

Hoje, dia 08/06, havia um ato marcado em frente à reitoria da Cidade Universitária. Era parte da programação de atividades dirigidas aos funcionários e apoiadores do movimento grevista do SINTUSP (Sindicato dos funcionários da USP).

O objetivo da presente reunião era demonstrar o repúdio ao modus operandi da atual administração universitária diante dos trabalhadores mobilizados e suas reinvidicações. Apesar de comissões da reitoria e lideres sindicais terem se reunido cerca de 4 vezes desde o inicio das paralisações, os parcos avanços obtidos em meio a um dialogo extremamente desgastado de antemão, foram colocados em cheque pela política tacanha e pelo personagem turrão do reitor da universidade, Sr. João Grandino Rodas (tratado jocosamente nos panfletos dos funcionários como REItor).

Com as negociações atravancadas por uma pauta extensa demais, com pontos de validade duvidosa - o próprio sindicato admitiu o fato, atendo-se neste primeiro momento à discussão somente da política salarial, cuja alteração foi o gatilho para a greve deste ano - e com a ameaça feita - e cumprida - de desconto nos vencimentos de cerca de mil funcionários (de acordo com o SINTUSP), um flagrante e inaceitável ataque ao direito de greve, que justa ou não, deve ter sua possibilidade resguardada (se considerada injusta, cabe a justiça, não à burocracia administrativa, definir sanções devidas aos seus participantes).

Bom, eu sou estudante da USP a alguns anos... e funcionário a algumas semanas. De início, com a paralisação de parte dos funcionários, mais uma estupidez sindical se anunciava. Uma gestão que tende ao radicalismo, que peca excesso de falatório (falatório, não discurso) e que espantosamente acredita falar em nome de todos os setores da universidade diante das “agressões” da administração, que muitas vezes se demonstram mais síndrome de perseguição do que de fato um ataque a direitos dos funcionários, estudantes, professores e população em geral. Tem a maior facilidade de passar de rarefeitas conversas – repletas de um discurso pré-programado – a movimentos bruscos como piquetes (cuja existência apenas tende a minar o movimento diante dos demais) e a paralisação em si. Há uma “Cultura de Greve” que tende mais a banalização e manipulação de pessoas e informações por este mecanismo do que para a oportunidade de abrir caminhos que conectem os difusos interesses presentes entre todos os elementos que constituem a universidade num ambiente de luta e discussão de propostas. A greve é, antes de tudo, uma marreta. E deve ser tratada como tal. Não pode ser utilizada com tanta virulência e displicência. Há “grevista-profissionais”, muitas vezes beirando a bandidagem – me senti escrevendo para a VEJA agora... - no sindicato e nem o mais ingênuo dos estudantes duvida disto.

Como pode ver, minha opinião sobre o sindicato não é das melhores. Costumo me posicionar contra a greve. Muitas vezes mais pela maneira como ela é feita do que pela pauta em si. Entretanto, diante dos percursos, encontros e tentativas de negociação por parte do sindicalista e reitoria, não tenho o menor pudor em afirmar que, apesar de ser contra a greve no inicio, agora sim ela me parece bastante justificada (SINTUSP padece de ejaculação precoce... o movimento seria muito mais forte se as paralisações não tivessem começado tão cedo). A insistência dos negociadores da reitoria em “cozinharem em banho-maria” os grevistas, a ausência de propostas alternativas as reivindicações dos trabalhadores na tentativa de chegar a um denominador comum e o flagrante “corpo-mole”, que tenta dar de ombros as ações de funcionários, esperando que a mobilização mingue até sumir, revelam uma abordagem do problema no mínimo infantil. Ao mesmo tempo dizer-se aberto à negociação e ameaçar os funcionários com cortes salariais – mesmo com estes dispostos a repor as horas paralisadas integralmente - o que afetaria sensivelmente não apenas a sustentação do movimento, como de suas próprias famílias. É uma atitude covarde, digna da maior censura por parte de toda comunidade universitária. Mesmo em lados opostos de uma mesa com propostas antagônicas isto é uma violência muito maior do que piquetes e ocupação de prédios (parafraseando planfeto do sindicato... como vêem sou ávido leitor de panfletos...).

Tudo isto, a tendência à radicalização do SINTUSP e a “paumolice” da reitoria, que não se digna a discutir propostas e apresentar resoluções, culminou neste dia 08 de Junho com, novamente, a ocupação da reitoria da USP por funcionários e estudantes. Entraram na marra, detonaram algumas portas e divisórias. Prometem consertar. Espero. Mas o que eu espero mesmo é uma resolução para este imbróglio.

Algumas coisas merecem ser consideradas ponto a ponto:

Rodas, o reitor: Indicado por Serra após derrota no Conselho Universitário (CO), primeiro demonstra que o modelo de administração de nossas universidades estaduais necessita urgentemente de uma reforma. Sem o espaço devido a maior parte do corpo docente, estudantes e funcionários, na escolha do dirigente da universidade, este ascende ao cargo sem legitimidade alguma, o que de pronto já dificulta medidas conciliadoras. Segundo, pela experiência vivida pelos estudantes da FD (Faculdade de Direito, aquele apêndice lá no Largo São Francisco sabem?), enquanto foi diretor daquela faculdade o Sr. Rodas nunca demonstrou dar abertura a discussões, debates e democratização da administração. Emplacou muitas de suas resoluções a fórceps, na surdina, com canetas descaradas sobre questões não resolvidas, muitas vezes sequer discutidas. É um administrador centralizador, totalitário, que sabe habilmente enrolar seus opositores em quilos de burocracia, formulários e promessas falsas. Não deveria passar nem perto de uma ambiente onde a abertura e o dialogo são primordiais e deveriam ser estimulados, o que indica que ele realmente esta no lugar errado.

Brandão e o SINTUSP: Este sindicato, como boa parte deles, este inchado de discurso antiquado e serve mais de entreposto para partidos inexpressivos da esquerda nacional do que como ferramenta de defesa dos direitos dos trabalhadores. A presença maciça de partidos políticos, que fazem das reuniões palanques, que buscam a auto-promoção e vantagens pessoais, a insistência na doutrinação de seus pares e o assédio sofrido por quem se opõe as lideranças atuais são só algumas das aberrações presentes neste corpo político decadente, que como regimes totalitários falidos, sobrevive através da criação de inimigos, de um “mal a ser combatido” (deram sorte... surgiu um!!!). Uma das grandes cagadas da atual gestão do SINTUSP e ser complacente com este antigo líder sindical, demitido por justa causa em meio a uma enxurrada de processos e total apoio da comunidade universitária. De todos – TODOS – os funcionários que já ouvi, nenhum mencionou este senhor como algum adjetivo mais brando do que “pilantra”. Ora, eles alegam que a demissão foi política. Pelo que me consta, há um “corporativismo piqueteiro” na atual gestão, que tenta proteger um dos seus mesmo quando este foi flagrantemente um imbecil. Ele sofreu um processo administrativo e foi destituído do cargo por justa causa. Retirar a “readmissão do Brandão” das pautas de campanha do sindicato faz-se urgente, como maneira de atribuir mais autoridade à mobilização.

PM no Campus: Mesmo sabendo da polêmica, não vejo motivos para a PM ser “proibida” de botar os pés na cidade universitária. Na boa, eles entraram ano passado e deram maior cacete em estudantes e professores. Se formos discutir a maneira como a tropa de choque agiu, então temos um debate. Agora, não se discute a legalidade do ato. Eles não “invadiram” a USP. Tinham autorização judicial para agir, pois os piquetes impediam a circulação de pessoas pelo campus. Todo manifestante sabe que a partir do ponto em que sua atuação impede o fluxo normal de atividades corre o risco de sofrer sanções. É o preço que se paga por parar uma avenida que é importantíssima para o trafego de um bairro, ainda mais com um hospital próximo por exemplo. A mesma constituição que garante o direito aos manifestantes ir as ruas para exigir seus direitos, garante a policia atuar para que esta manifestação não oprima os direitos de outras pessoas. Faz parte. Se houver exagero, a policia tem total direito de intervir. Porque a cidade universitária teria de ser uma “bolha legal” onde a policia não pudesse atuar? E não venham com papo “dos tempos da ditadura” que este não cola mais. Hoje não precisamos fugir do DOPS, nem somos seguidos causa de barba comprida e roupas ripongas (senão ia ter tropa de choque na FFLCH todo dia né).

Direito de greve: Seja qual for o teor do diálogo, atacar o direito de greve da maneira como vimos nesta universidade é uma ofensa a todos os trabalhadores, públicos ou não. Ser punido por lutar por seus direitos, por exigir melhores condições de trabalho, e tão absurdo que justifica, a meu ver, medidas extremas como a ocupação da reitoria. Muitos vem com o papo de que os funcionários “querem ganhar sem trabalhar”. Não sei em que planeta estes infelizes vivem. Os funcionários ganhariam sim pelos seus dias parados de imediato, mas teriam que repor estas horas posteriormente. Não haveria essas “férias remuneradas”.

Finalmente, muito se falou de esta seria uma “greve da Copa”, mas as greves da USP quase sempre começam em Maio (seja Copa, Olimpíada ou final da dança dos famosos), pois o calendário de discussões salariais ocorre um pouco antes desse período... e como elas sempre terminam em briga dá nisso!! E todos folgam nos jogos do Brasil, ou você acha que a tiazinha do bandex é tão tarada assim por futebol pra quer ver todos os jogos de Honduras e Nova Zelândia na competição? Por favor né. Se a desqualificar, que desqualifique a pauta inchada ou a precocidade da greve, que por total insensatez da reitoria, tendo no REItor Rodas seu máximo expoente. É Incrível como sempre vemos nos embates políticos na USP uma seqüência assombrosa de bobagem, disputas de ego, discurso vazio e medidas enganosas. E mais incrível ainda é como uma seqüência de erros dos sindicalistas, mais uma seqüência de erros da reitoria, nos levaram a um cenário onde tudo se reverte em nome de ações ainda mais radicais de ambos os lados, com uma chance cada vez menor de solução a curto prazo. Realmente Rodas, palmas para você. Que excelente reitor você é hein. Vou pedir para me indenizar do dinheiro gasto com refeições fora do bandex este mês, melhor se preparar. Afinal, até este momento, o grande bobo da corte é você!

Bom, já que a greve ta ai né, e agora fudeu de vez... vamos ver no que vai dar.

VEJA FOTOS DA OCUPAÇÃO AQUI

2 comentários:

  1. Olá.
    Estou a 5 anos e meio na USP e essa a quinta greve neste periodo.
    Em 2006 também houve a greve da copa, que acredite você ou não no dia seguinte que o Brasil foi eliminado.
    Outra coisa, sabemos que existem tanto alunos como funcionários ligados a partidos políticos que participam das greves.
    Não acho injusto o aumento para os funcionários. Mas a realidade é que na USP paga eles muito melhor do que em outros lugares.
    Além disso, sei de institutos onde chove dentro de salas de aulas e até na sala de alguns professores. Se não temos dinheiro nem para estrutura talvez precisamos receber mais dinheiro do governo estadual ou cortar gastos.
    Por fim, greves todos os anos não aconteceriam se a USP fosse uma universidade privada.
    Infelizmente, o funcionalismo público precisa de uma reforma, pois, acho que alguns funcionários baderneiros(principalmente, os que fazem politicagem dentro da universidade) e alguns professores enganadores(por serem mals professores e mals pesquisadores) mereciam ser demitidos.

    ResponderExcluir

Expressão com bom senso